domingo, 7 de dezembro de 2008

"VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA"

Pediram para eu postar este texto... aí está... divirtam-se e boa leitura neste domingão!

"Vou-me embora pra pasárgada! Lá, sou amigo do Rei!"

Os versos de Manuel Bandeira são, a partir de hoje, o meu passaporte – livre de alfândegas, aduaneiras e postos de fiscalização no combate a muambas – para os Estados Unidos da América. Os versos, meu novo documento, me orientam a encaminhar todos os meus projetos de destruição ambiental, que guardo no cerne do meu entendimento de nortista. Ora, como todo bom brasileiro bem sabe (ou bom indígena – dependendo da visão de quem me coloniza e que me dá espelho de presente) esse sentimento destrutivo não se restringe, apenas, às queimadas ocasionais e esparsas pelo meio do cerrado e que acabam tratadas como aspecto cultural. Como nortista sei que no coração de pedra que hoje me rege, desde que fui re-inserido como ser humano que existe de fato no meio das discussões nacionais da integralidade militar territorial na região norte, sei que o negócio de defesa de ambientalismo é coisa que não dá dinheiro – afora SUDAM, Madeireiras e Mineradoras.

Pra chegar ao meu ato de transgressão diplomática, como bom indígena que poderia pensar que era, sei, hoje, que nem só de espelho se vive a relação colonizadora, mas também de todo escalpo que sobra na mão do guerreiro.

Ora, eu digo isso porque ao constatar que, no Tocantins, o Jalapão é uma casa aberta a quem tem força pra impor suas causas, acabei ficando, por um momento, perplexo; mas depois de um arrabalde de civismo, parti pra anestesia.

Levantei de ímpeto, do lugar onde estava sentado sobre meu conformismo, tomei o livro da estante, folhei Bandeira até Pasárgada e lembrei que tudo se pode se se é amigo do Rei.

Tal lá como cá, quero o mesmo direito de fincar a flâmula do meu povo em terra alheia – em nome dos Maias, Astecas, Incas, Xerente, Kaiapó... Quero desbravar - com meus contêineres de compensado, meus alojamentos de adobe e palha e meu reservatório com água coletada na cacimba com todos os ovos de amarelão e dengue possíveis - todos os santuários estadunidenses. Ou pelo menos os que por lá sobraram. Quero ir, com passaporte nas mãos, meus amigos munidos de moto-serras, mercúrio, dragas e bateias de um lado e todo o relaxamento diplomático que possa esperar ter no lado de lá da fronteira, mostrar, via telex, para os sulamericanos, que posso brincar, também, de Pitfall – um bandeirante do Esporte Alternativo onde a maior esmeralda que se conquista é a falta de soberania de um povo!!

Se, por um acaso, meu choro pelo jogo limpo não convencer órgãos ambientais daquele lugar, faço valer minhas memórias mais fortuitas para lembrar a cada um dos companheiros de reality shows que meu desespero não é em vão. Afinal, os números falam por si só - afinal, somos experts em matéria de destruição:

Um estudo, elaborado pela UnB, aponta que o país não tem cumprido a meta de integrar os princípios de desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e de reverter a perda de recursos ambientais. Entre 1990 e 2000, o Brasil perdeu por ano, em média, 2,3 milhões de hectares de cobertura vegetal. Em 2003, 36,85% do território brasileiro não tinha mais essa cobertura.

Mais. O Brasil, que abriga alguns dos ecossistemas mais importantes do mundo e cerca de 20% de toda a biodiversidade conhecida do planeta, vai falhar no cumprimento do Objetivo do Milênio ligado ao meio ambiente se não intensificar as melhorias registradas na última década e se não alterar o processo de degradação ambiental.

Já um estudo divulgado pelo IBGE, mostra que o crescimento das queimadas e incêndios florestais promovidos para transformar a mata nativa em áreas agropastoris. Somente em 2003, foram detectados por satélite em todas as regiões do país quase 213 mil focos. Para o instituto esse tipo de expansão tem repercussão ambiental negativa, pois "regiões sul e leste da Amazônia compreendem hoje o que se chama de arco de desmatamento e que, se não houver preocupação com a preservação do território da Amazônia esta será a próxima fronteira a ser destruída".

Ou seja, o mais apressado vai me acusar de xenofobia, de contrário à exposição de nossas terras aos contratos futuros e coisa e tal. Mas, é que me baseio num ensinamento que vem de cima pra poder ter desconfiança de tanta camaradagem – ou já esquecemos que por menos, bem menos, Marina Silva foi convidada a deixar o cargo no Ministério do Meio-Ambiente por ter cometido o erro de – veja só! – cumprir o seu papel de gerir um ministério que tem como função prerrogativa a preservação. Ou seja, se a escala descendente que contagia atos de governos pelo restante do país encontra suporte no governo federal quando o assunto é mandar às favas o rigor da aplicação da preservação, pergunto:

- Por que nos surpreendermos com um pedido tão singelo de entrar com chute na porta e tudo – só que bem baixinho pra não causar espanto – na casa dos Estados Unidos??

Para um país que não assinou o Protocolo de Kyoto – pelo menos pra fingir que se importava com o resto do planeta, uma vez que seu geocentrismo yankee só não é maior do que seu próprio ego – não custa nada subverter tudo e mandar às favas os alces, os ursos, as cadeias de montanhas do Colorado, os lagos na fronteira com o Canadá... as cataratas do Niágara.

Ora, por que não?

Tracei meu plano e vou regimentado pra essa aventura: Baterei à porta da governadora do estado do Arizona, Janet Napolitano, e pedirei completa exploração do Grand Canyon. Claro. O plano é simples, mas não menos nocivo. Pedirei suporte local para registro da minha empresa, a "Bananada Beat", e contratarei mão-de-obra local a custo barganhoso, fecharei o acesso dos gringos a seu próprio patrimônio, encerrando visitações aos desfiladeiros por uma temporada inteira; não contente com isso, farei mais – encherei os olhos de nossos espectadores com a nudez integradora, àquele ambiente, das nativas - cherokees e apaches - mais tostadas e em condição de miséria da região, levarei isopores recheados até o talo com cachaça genuinamente artesanal e, por fim, construirei aquela estrutura gigantesca de alojamentos, que citei anteriormente, nas margens de rios e de falhas geológicas ameaçadas pela ação do homem.

Não sei ao certo que resquício que minha passagem deixará no local e nem se a governadora de lá será tão complacente como vemos outros governadores por aí, mas uma coisa eu sei – "Vou-me embora pra Pasárgada. Em Pasárgada tem tudo. É outra civilização. Tem um processo seguro de impedir a concepção. Tem telefone automático. Tem alcalóide à vontade. Tem prostitutas bonitas para a gente namorar".

Nada que não surpreenda a quem já age como Salomé, Messalina e Hetaíra por menos, muito menos.

Tava aqui pensando: Pasárgada deve ser o Jalapão de lá.




Ass: Um colonizado puto da vida

Um comentário:

  1. Como já disse anteriormente, no Brasil, tudo pode, tudo é permitido, desde que traga lucro p alguém, não interessa o q estão fazendo, se é um programa ou biotráfico, as consequências de tudo! Ninguém pode entrar nos EUA e fazer o q quer, tanto q querem banir imigrantes de lá, para vc viajar p lá cobram inúmeras coisas...agora todos podem entrar aqui, e usufruir da explorações de menores, fazer pesquisas e tudo mais... quanto a kioto, eles nem estão aí, crescimento, dinheiro é tudo q pensam... tanto que explodiram a economia do país em Bombas no Iraque, kwait e em outras regiães as quais ele se acham donos... eles tudo podem tudo fazem, e nos subdesenvolvidos tudo aceitamos!!!

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